Adaptação historia Mia Couto. Os infelizes cálculos da felicidade



Personagens


JÚLIO: professor

TERESA: mãe de Júlio

LOLA: aluna de Júlio




SUCESSO PRIMEIRO.
Limbo da porta da casa da mãe do professor. J marchando-se, com tuppers de comida baixo um braço e um cartão de autocarro na outra mão.
(...)
TERESA: Faça as contas Júlio.
JÚLIO: São dois euros sem cartão, acho.
TERESA: Essa conta não, filho, essa conta não.
JÚLIO: Mas... essa faz-se de coração.
TERESA: Só pensa (...) O que é que é o objetivo?
JÚLIO: (...) Viver.
TERESA: Ahá
JÚLIO: O objetivo é ser feliz.
TERESA: Sim, sim.
JÚLIO: Muito simples.
TERESA: Simples. Como as bifanas... e tu sempre foste um homem feliz... E inteligente, Júlio. A vida é curta.
JÚLIO: Eu sei... Não vou deixar que as minhas vísceras se convertam em cinzas... mas como é que eu vou ser feliz assim?
TERESA: Não podes deixar que o feitiço faça efeito, tu és mais forte do que isso. Muito mais.
JÚLIO: Se calhar não entendo meu corpo... nunca refletira em que o oito deitado é um infinito...
TERESA: Já está. Todos temos fraquezas, mas já está bem... A natureza gosta de se ocultar.
JÚLIO: E eu gostaria de ir atrás no tempo. Mas agora é presente, tens de entender. Não sei mas o QUE fazer...
T faz um gesto de amor ao seu filho.
TERESA: Vai embora, filho. E traz-me isso de volta!
J não faz muito caso, marcha apurado. T fecha a porta e depois dum par de segundos vemos a J voltando, olha que a sua mãe já entrou na casa e volve marchar.


SUCESSO SEGUNDO.
À beira do rio. Verão. O Júlio e a Lola sentados num banco perto dum rio ao cair a tarde. 1
LOLA: É bom este cheiro de água.
JÚLIO: É mesmo.
LOLA: É bom porque é simples.
JÚLIO: É bom porque é água revolta. Não é tão simples quanto pensa.
(...)
JÚLIO: É agora que afirmo que nem só de pão vive o homem... Podemos comprar um sorvete, se calhar.
LOLA: Está quente.... gosto do verão para me aquecer. É bonita a vida...
JÚLIO: Que estranha é a vida!... Como não percebi antes...
Empeça a tocar nela
JÚLIO: Podemos faze-lo.
LOLA: Seria demasiado perfeito... Eu gostaria de ter muitos.... Sabes? É bom estar cá os dois, gosto de falar com você, Júlio. É diferente.
Olham-se nos olhos. Ele aproxima sua mão as calcinhas dela.
JÚLIO: Você é minha menina.
LOLA: Por vezes acho que teu olhar é... como o olhar do uni...
JÚLIO: Continua.
Começa a masturbá-la.
LOLA: Júlio...
JÚLIO: Não pares
LOLA: Há.. Há um besouro em teu ombro. Ri
JÚLIO: Posso lhe oferecer uma porta. Começa a cantar a cançãoAo bem de amar” de Dulces Pontes: O coração tem três portas...”
OS DOIS: “para se viver e sonhar. Coração porta da vida...”
Nalgum momento Lola interrompe o seu canto para colher seu celular.
LOLA: Sim?
Júlio começa a tocar nela outra vez. Ela sorri e colhe sua mão á vez que fala pelo celular, coloca-a nas suas cadeiras e começam a bailar muito pegados, ao ritmo da canção que estavam a cantar. Júlio debuxa nos seus lábios a letra da canção.
LOLA: Eu sei Soraia (...) Não sei... acho que o vestido azul (...) Sim, ficará bem. Levo também meus pinceis (...) Beijinho! (...) Até já.
JÚLIO: (brincalhão) Teu cheirinho. Teu calor. Tua música. Teu ar de rainha tropical.
LOLA: Tão cerca e tão longe Júlio. Tenho de ir embora.
JÚLIO: Joga no chão e brinca: Oh! Preciso de alguém para me aliviar uma dor em meu peito. Ah!
Lola ri, deita-se em cima dele e o beija nos lábios apaixonadamente.
LOLA: Amo-te.
Lola marcha apurada, dedica-lhe um sorriso a Júlio.
LOLA: E lembra de embalar o presente!
Corre. Júlio fica sozinho, senta de novo no banco e tira um colar do bolso das calças. Joga com ele.



SUCESSO TERCEIRO
Dia de chuva. Limbo da porta de entrada da casa da mãe do Júlio. Uma pessoa totalmente coberta cum casaco por cima da cabeça fica fora. A mãe aparece e dá o dinheiro para ela.
TERESA: Obrigada. Fica olhando para ela. Passou algo? Estão bem as contas filha?
Lola quita o casaco da cabeça. T repara nela.
LOLA: Não ...
TERESA: Mmm...
LOLA: Acho que faltam dois...
Lola reconhece o colar que está usando a mulher. Silencio grande.
TERESA: Desculpa...Emmm... Já trago agora, já trago. Entra em casa, L colhe o seu celular e escreve nervosa. T aparece de novo. Aqui tens.
LOLA: Ai... (Tira com o celular ao chão e Teresa ajuda) ...Obrigada.
TERESA: Bom dia.
LOLA: Bom dia. T vai fecha-la porta. Espero que goste dos doces! T espera um momento. Se calhar para a semana posso trazer mais...
TERESA: Lola... Podes. Também eu estou carente... também eu.
LOLA: Eu... Bufa (...) Olha para o chão e joga com as moedas e o celular. Eu... procurei ele, sab...
TERESA: ...E eu não fiz nada para que acontecesse o que tem acontecido. (...)
LOLA: ... jurou... não se desapegar.
TERESA: Sei, eu sei.
LOLA: Todas as gentes falavam (para si, em voz baixa) “Quem sementa ventos recolhe tempestades”.
TERESA: Mas depois da tempestade vem a bonança... Lola.
LOLA: É fácil dizer...
TERESA: Eu sei, mas...
LOLA: ... para você.
TERESA: ...mas tens de entender quanto não é bom para vocês este relacionamento. É labor do destino se ocupar das coisas que não dá para ser.
LOLA: É verdade...
TERESA: Eu só digo que nem todos os amores dão para ...
LOLA: … e quem escreve o destino, eh? Quem o escreve? (…) Venha.... Diz-me.
TERESA: ... eu gostaria de ver vocês ficar juntos. De ver você feliz. De ver ele feliz. Mas n...
LOLA: Claro que não... agora Teresa, claro que não.
TERESA: Tudo... tudo... acontece por algo.
LOLA: Já...
TERESA: Até as desgraças mais injustas. Faz caso desta velha, Lola, faz caso. Silencio. Agora vai-te embora, se faz favor.
Teresa começa a chorar e olha para o chão.
Escuro.
1Proposição para direcção: Ar carregado de algodão de álamo

Simple


Ese olor indescriptible que te indica cuando llega el verano...
Las ranas, los pájaros, la fuente y las campanas lejanas.

Las risas.

La suavidad del color rosa que parece rozar tu piel.

Y ese frescor al caer la tarde que indica que no hemos entrado de lleno en el período estival aún.

Lacónico.

El momento del sexo tan bonito, tan privado y tan poético que no quiero...

Tan natural.

La vida es bonita en función de los ojos que la miren. Visto desde arriba, desde el sentimiento de pertenecer al Planeta Tierra, desde un conejo que me mira y me sigue como la niña del bar, desde los colores tan vitalistas del atardecer, desde este fresquito que me toca los brazos, desde esta soledad compartida con el señor del trípode que mira al infinito.
Siempre.