Palavras-chave:
natureza, pensamento, frustração e calma.
Descrição:
- Entrada: o público permanece a escuras e a performer entra por uma rua de luz cálida. No seu movimento, emprega muita tensão muscular e um tempo descontínuo, com intervalos. A expressão facial poderia se dizer que é de pânico ou alienação. Viste de preto com saltos e o pelo amanhado numa trança. Dirige-se lentamente cara ao linoleo, que já não está iluminado pela rua luminosa, mais por outra luz geral.
- Continua os movimentos, recreando um ambiente de frustração.
- Chega até uma cadeira que tem uma pata mais longa que o resto, de cor cinza. Senta e segue os seus movimentos jogando com imagens do imaginário popular, como o pensador, mais não é quem de ficar na posição. Faz uma pausa e o ruído passa a ser ruído branco.
- Baixa da cadeira, vai-se descalçando e chega um momento de relaxamento. Escutasse o mar e a performer mexesse suavemente, com a parte superior do corpo totalmente relaxada e cara adiante.
- Volta á tenção e marcha da sala do mesmo jeito que entrou, mais cunha mudança: descalça.
Comentário:
Esta peça fixo-me
reflexionar muito sobre o valor das palavras, o sentido e sem sentido destas e sobre como organizam o nosso
mundo. Depois de ler o panfleto desta peça, fiquei confusa. Há um
tempo eu gostava de ser como a Bruna, “Gostava de não usar palavras. Nem
pensamentos.” Simplesmente ser, estar, permanecer. Coma uma árvore.
Como a própria natureza. Mais é complicado porque estamos feitos
por palavras e pensamentos e ademais somos seres sociais. Esta peça
transmitiu-me frustração, uma frustração talvez comunicativa. Uma
incapacidade de. De ser ela mesma, de escapar de ela mesma, de
chegar a ela mesma. “Ser elemento em liberdade”. Para mim, trata
muito do pensamento, dessa vontade de fugir dele. Essa tenção que
nos produz a maior parte das vezes e dessa calma que dura tão pouco
lá dentro, nas nossas cabeças.
Foi uma peça
bastante monótona, no sentido em que não existem grandes mudanças
ao longo da atuação; mais intensa, clara. A qualidade de movimento
está muito trabalhada, a presença. E a pesar disso também é percibida uma transformação desde o momento em que tira as botas.
O espaço sonoro
foi muito interessante. Transita por momentos mais orientais e
naturais, como a gota de água ou o som do mar, ata outros mais
molestos, como o violino ou o ruído branco. Os sons marcam cada
momento performático, o definem. Em canto a indumentaria, vai de
preto e pintada com sombras brancas que junto coa gesticulação da
cara lembra a dança Butoh.
Cada
espetáculo é único e diferente, pois há moitas variáveis, que
sempre se adicionam ao que está a acontecer. Isto passou com olor ao
sabão lagarto que inundava a sala, fixo-me voltar á minha infância,
como o cupcake de Proust, e sentir-me como na casa, cómoda e
confortável a pesar do panorama. Achei também que o feito de ter
ao lado a um homem com móvel que não parava de se iluminar pela
chegada dos whatsapps incrementou todos os pensamentos polos que
estava a passar: o mundo de hoje em dia, um mundo de estresse,
velocidade e tenção, como estava a mostrar a Bruna Carvalho. Pois me deu muito no que pensar, a pesares de intentar simplesmente estar, coma ela pretende.