E.le.men.tos de Bruna Carvalho


Palavras-chave: natureza, pensamento, frustração e calma.

Descrição:
  1. Entrada: o público permanece a escuras e a performer entra por uma rua de luz cálida. No seu movimento, emprega muita tensão muscular e um tempo descontínuo, com intervalos. A expressão facial poderia se dizer que é de pânico ou alienação. Viste de preto com saltos e o pelo amanhado numa trança. Dirige-se lentamente cara ao linoleo, que já não está iluminado pela rua luminosa, mais por outra luz geral.
  2. Continua os movimentos, recreando um ambiente de frustração.
  3. Chega até uma cadeira que tem uma pata mais longa que o resto, de cor cinza. Senta e segue os seus movimentos jogando com imagens do imaginário popular, como o pensador, mais não é quem de ficar na posição. Faz uma pausa e o ruído passa a ser ruído branco.
  4. Baixa da cadeira, vai-se descalçando e chega um momento de relaxamento. Escutasse o mar e a performer mexesse suavemente, com a parte superior do corpo totalmente relaxada e cara adiante.
  5. Volta á tenção e marcha da sala do mesmo jeito que entrou, mais cunha mudança: descalça.

Comentário:
Esta peça fixo-me reflexionar muito sobre o valor das palavras, o sentido e sem sentido destas e sobre como organizam o nosso mundo. Depois de ler o panfleto desta peça, fiquei confusa. Há um tempo eu gostava de ser como a Bruna, “Gostava de não usar palavras. Nem pensamentos.” Simplesmente ser, estar, permanecer. Coma uma árvore. Como a própria natureza. Mais é complicado porque estamos feitos por palavras e pensamentos e ademais somos seres sociais. Esta peça transmitiu-me frustração, uma frustração talvez comunicativa. Uma incapacidade de. De ser ela mesma, de escapar de ela mesma, de chegar a ela mesma. “Ser elemento em liberdade”. Para mim, trata muito do pensamento, dessa vontade de fugir dele. Essa tenção que nos produz a maior parte das vezes e dessa calma que dura tão pouco lá dentro, nas nossas cabeças.
Foi uma peça bastante monótona, no sentido em que não existem grandes mudanças ao longo da atuação; mais intensa, clara. A qualidade de movimento está muito trabalhada, a presença. E a pesar disso também é percibida uma transformação desde o momento em que tira as botas.
O espaço sonoro foi muito interessante. Transita por momentos mais orientais e naturais, como a gota de água ou o som do mar, ata outros mais molestos, como o violino ou o ruído branco. Os sons marcam cada momento performático, o definem. Em canto a indumentaria, vai de preto e pintada com sombras brancas que junto coa gesticulação da cara lembra a dança Butoh.
Cada espetáculo é único e diferente, pois há moitas variáveis, que sempre se adicionam ao que está a acontecer. Isto passou com olor ao sabão lagarto que inundava a sala, fixo-me voltar á minha infância, como o cupcake de Proust, e sentir-me como na casa, cómoda e confortável a pesar do panorama. Achei também que o feito de ter ao lado a um homem com móvel que não parava de se iluminar pela chegada dos whatsapps incrementou todos os pensamentos polos que estava a passar: o mundo de hoje em dia, um mundo de estresse, velocidade e tenção, como estava a mostrar a Bruna Carvalho. Pois me deu muito no que pensar, a pesares de intentar simplesmente estar, coma ela pretende.