Cohen trata o assunto de um modo muito aberto e filosófico, e que não sabemos muito bem o que é a performance, o que sabemos o que não é: não são limites nem respostas. Assim, começa já perguntando-se e perguntando-nos se o desígnio da arte é representar, recriar ou mesmo criar outras realidades. Continuando com a pergunta: que é o real? Faz-nos deste modo lictores activos, sendo uma boa introdução, que chama a nossa atenção.
Continua a falar dos precedentes, reflectindo sobre a sua evolução em conjunto da Historia da música, da literatura, da dança e das artes plásticas. Cita desde distintas vanguardas de princípios de século como o futurismo, o dadaísmo ou o surrealismo até movimentos de segunda metade de século como o happening ou o body art.
Por último, procurou em definir um pouco o que é a performance, o que é que faz que seja outra coisa distinta a todos esses movimentos anteriores. Acho muito interessantes todos os temas que toca no último ponto, Movimentos Congéneres: Da contracultura à Não-Arte: o papel de radicalidade da performance, o sua condição de anti-sistema, o principio do prazer, as questiones existenciais básicas e o facto da não imitação, de seguir um impulso verdadeiro, de trabalhar desde a própria vida. Este último conceito intimamente ligado ao trabalho de Artaud.
Acção e representação nas artes performativas, Cassiano Sydow Quilici
Sydow Quilici diz-nos da acção performática, o que é isso e as diferenças com a representação teatral e a analisa dentro das muralhas do mundo contemporâneo. Pareceu-me muito interessante a reflexão que apresenta o texto sobre o sentido não representacional desta arte cénica: a performance não representa o que entendemos como vida quotidiana porque acha que é uma mentira, estamos tudo o tempo a representar papéis segundo certas convenções e normas que nos sob impostas, actuando de forma automática. É incrível a consciência que nos da este texto sobre a antiguidade deste conceito, retomando a metáfora de theatrum mundi, “o mundo como um grande palco no qual os homens representam os seus papéis sem terem necessariamente os escolhidos” (linha 24, pág. 35).O autor cita a Marina Abramovic, para explicar essa atitude tão própria dos performers de estar contra o teatro, precisamente por causa disto.
Faz-me reflectir sobre esse lado tão atrasado do nosso tempo, pois, vivemos numa sociedade aparentemente “moderna” em canto tecnologia e avances científicos, mas espiritualmente estamos cada vez mais atrasados, mais mortos. Cita assim a teoria do mundo líquido de Zygmun Bauman, do facto de que cremo-nos sujeitos continuamente em fluxo, em movimento ... e certamente, como vamos a representar esta realidade actual com personagens fixados, textos fixados, reacções fixadas?
Faz-me reflectir sobre esse lado tão atrasado do nosso tempo, pois, vivemos numa sociedade aparentemente “moderna” em canto tecnologia e avances científicos, mas espiritualmente estamos cada vez mais atrasados, mais mortos. Cita assim a teoria do mundo líquido de Zygmun Bauman, do facto de que cremo-nos sujeitos continuamente em fluxo, em movimento ... e certamente, como vamos a representar esta realidade actual com personagens fixados, textos fixados, reacções fixadas?
Gostaria de destacar, no último parágrafo da página 37, a ideia que dá sensação que se produz antes de chegar a uma ideia ou pensamento, o que Clarice Lispector chamaria “ Pre-pensamento”. Comparo ambas análises, enquanto que Lispector diz que “O pré-pensar não é racional. É quase virgem” (pag. 15, Um sopro de vida); Sydow Quilici acha que esse pre-pensamento está influenciado sempre, que não é tão puro, porque é impossível começar algo de zero, com tudo em branco, como se acabássemos de nascer. A estarmos influenciados é algo inerente a tudo o processo, como as leituras que se lhe deram a uma obra. Ao falar delas, não podemos esquecer-nos do passado, do que já ouvimos e lemos. É uma percepção muito interessante relacionada com a filosofia. Se falamos de pensamento, falamos de filosofia. É habitual comparar a acção de um actor criador ou de um performer com a de um filósofo.
Ao falar de filosofia, falamos de palavras. Mais até onde é que chegam as palavras? É agoniante a ideia de não saber como expressar o que sentes com palavras, porque somos educados para expressa-lo tudo com palavras. Mas as palavras não chegam às vezes, é por isso que a performance capta tanto a nossa atenção, porque pretende se aproximar aos limites do dizível, como diz o autor. Não só por isso, mas por seu jogo constante como o risco, já que pretende ensinar sentimentos radicais, a extrema violência ou o sublime. Esse intento por influir na sociedade também é um plus. Parece querer captar a atenção muito fortemente, e eu acho que para isso tem que haver uma necessidade por parte do performer. É algo no que também reflicto bastante..., pois se não tem a necessidade de contar ou fazer algo, como vás a chegar aos limites do dizível, ao sublime?
O texto não pode terminar de uma forma melhor, falando da vida contemplativa tão pouco presente no mundo contemporâneo, relacionada com o sujeito da experiência do que falava Bondía. O sujeito que se perdeu do que fala também Bauman. Acho que este é um bom exemplo para expressar isso que os detractores da arte sempre perguntam: a necessidade desta. A arte como medicina alternativa. A necessidade dentro da “não necessidade”.